domingo, 29 de março de 2020

Posicionamento do CAIA sobre as atividades online

[𝐂𝐨𝐧𝐬𝐮𝐥𝐭𝐚 𝐀𝐭𝐢𝐯𝐢𝐝𝐚𝐝𝐞𝐬 𝐎𝐧𝐥𝐢𝐧𝐞 - 𝐈𝐀]
𝐀𝐧á𝐥𝐢𝐬𝐞 𝐞 𝐋𝐞𝐯𝐚𝐧𝐭𝐚𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨 𝐝𝐞 𝐃𝐚𝐝𝐨𝐬

De 20 à 24 de março foi realizada pelo Centro Acadêmico do Instituto de Artes uma pesquisa via Google Forms com o objetivo de consultar a situação dos estudantes de graduação sobre as atuais demandas de Ensino a Distância (EaD) sugeridas pela reitoria.

Nosso instituto possui diversas especificidades de infraestrutura, materiais e conteúdos curriculares. Acreditamos que essa medida não é cabível à totalidade dos nossos cursos, assim, foi realizado um levantamento de dados e opiniões dos estudantes do IA. Vale ressaltar que em nenhum momento a pesquisa foi enviesada e que todas as opiniões foram levadas em consideração neste relatório.

Foram recebidas 364 respostas, sendo 88 do curso de Artes Visuais, 83 dos cursos de Música, 69 da Midialogia, 67 da Dança e 57 do curso de Artes Cênicas. Referente aos anos de ingresso, responderam o formulário 82 ingressantes de 2020, 80 de 2019, 91 de 2018, 61 de 2017, 44 de 2016 e 6 de 2015.



 Ao perguntar o posicionamento sobre a Unicamp ter ensino online durante o período de suspensão das atividades por conta da pandemia do COVID-19, 53% responderam serem contrários à medida, 21,4% são favoráveis e 25,5% alegaram não conseguir opinar sobre o assunto.

Questionados se teriam acesso aos recursos tecnológicos necessários, caso as aulas via online fossem mantidas, 90,7% afirmaram que teriam acesso e 9,3% responderam que não. Apesar de parecer pouco, quase 10% dos estudantes afirmarem não terem acesso às ferramentas necessárias, é um valor considerável, sabendo que aqueles que já estão com acesso restrito às redes sociais e internet podem não ter respondido ao formulário.

Destes que afirmaram ter acesso às ferramentas necessárias, 11,8% não teriam acesso a computadores ou notebooks, ficando restritos às limitações do celular. Apenas 75,9% dos estudantes possuem internet banda larga em suas residências e 42% a rede móvel disponível nos celulares. 86,4% garantiram ter acesso ao e-mail institucional e às ferramentas do G Suite (Google Meet, Classroom, etc). Sobre o período de acesso a tais recursos, 45,2% afirmaram ter acesso livre a eles e 27% que possuem acesso restrito. Considerando o local onde passariam esse período de atividades, apenas 56% afirmaram possuir local adequado para estudo e 29,5% responderam não ter um local adequado.

Para além das ferramentas tecnológicas, pensando na especificidade de nosso instituto, perguntamos se os estudantes teriam acesso aos materiais necessários para o andamento das disciplinas que estão cursando (ex.: instrumentos, materiais de pintura, gravura, marcenaria, câmera, programas de edição, espaço para execução de trabalhos práticos/físicos, etc). 75,5% responderam que não teriam acesso a essas necessidades e 24,5% disseram que sim. Destes 89 alunos que responderam sim, 48 são estudantes de Música, 16 de Dança, 12 de Midialogia, 7 de Artes Cênicas e 6 de Artes Visuais.

Outro dado coletado foi sobre a saúde mental dos estudantes frente a este período de confinamento, preocupações com familiares e amigos, questões financeiras e ansiedade. Levando isso consideração, ao responderem se estariam aptos para realizar atividades avaliativas, 46,7% disseram que “sim, mas com dificuldades”, 27,7% optaram por “não, minha situação não está favorável”, apenas 17,9% afirmaram que “sim, estou bem e poderia realizar” e 7,7% disseram não conseguir opinar.

Para finalizar o formulário, foi aberto um tópico para sugestões e opiniões onde os discentes pudessem fazer comentários, tanto favoráveis quanto contrárias a solução proposta pela reitoria, além de qualquer outra colocação que achasse relevante para a discussão.

Dos apontamentos favoráveis, os alunos que se posicionaram argumentaram que não gostariam de trancar ou transferir disciplinas para o próximo semestre letivo, além de acharem desfavorável passar pelo período de confinamento sem atividades relacionadas a graduação.

Existe a preocupação da impossibilidade da permanência na faculdade, por questões financeiras e de tempo de curso que seriam estendidos. Alguns alunos do último ano de graduação se viram prejudicados se tiverem que permanecer mais um semestre ou ano na unicamp para se formarem.

Outros discorreram sobre a importância de se manter atividades acadêmicas nesse período, podendo ser adaptadas e provisórias, visando que essas atividades podem ser proveitosas para a exploração de novas perspectivas artísticas, mas não por tempo prolongado. Apontaram ser favoráveis às atividades EaDs como caráter não obrigatório ou avaliativo. Alguns outros escreveram que são favoráveis a atividades EaDs para disciplinas teóricas, mas contrários para as disciplinas práticas.

Por fim, apontam que essa seja uma oportunidade de criar cursos com video aulas e material de apoio online de conteúdo extracurricular e facultativo.
Dos apontamentos contrários, os alunos que se posicionaram desacreditam que a qualidade das aulas práticas possa ser mantida através do EaD, além de que a maioria delas não são possíveis nesse formato por serem matérias de prática em grupo ou que necessitam de materiais e espaço que só a universidade pode oferecer. Para matérias teóricas a impossibilidade de acesso ao acervo da biblioteca desfavorece as consultas e estudos que poderiam ser buscados nesse meio.

Discordam dessa possibilidade ao refletirem sobre o coletivo, levando em consideração os alunos que não possuem acesso às ferramentas tecnológicas, sendo assim injusto e antidemocrático. Argumentam que nenhum aluno deveria ter que escolher entre atrasar a graduação e trancar o semestre por não se adaptar a uma modalidade de ensino pela qual não optaram, além de ser uma condição desfavorável à saúde mental, uma vez que em estado de confinamento é preciso lidar com o possível aumento da ansiedade, estresse e depressão e preocupações familiares ou financeiras.

Existem ainda aqueles sem espaços adequados para as práticas de aula e ensaios, de concentração e sem interrupções familiares. Alguns apontam que, como único modo de conseguir um espaço adequado para a realização das atividades online, precisariam retornar para Barão Geraldo, o que seria inviável sem o suporte do Restaurante Universitário para a alimentação.

Há atividades pouco propícias a serem realizadas em uma reposição condensada, já que necessitam do tempo de maturação ao longo do semestre.
Muitos dos alunos citaram o cancelamento do semestre como a única medida plausível, pois estão ocupados com afazeres domésticos, manutenção do espaço e/ou de cuidados com familiares, idosos e crianças. Foi informado que vários alunos estão sem acesso à internet, especialmente ingressantes indígenas, e não conseguirão manter as atividades online.

O EaD requer níveis de organização e planejamento muito diferentes do ensino presencial. Alunos que expuseram ter déficit de atenção, demonstraram grande preocupação. Dentro desse contexto, já existem dificuldades com a tecnologia durante as aulas presenciais, onde muitos professores não têm o preparo necessário para lidar com as ferramentas online. Sendo assim, como criar e lidar com plataformas que requerem um maior conhecimento digital sendo que em aulas presenciais a falha destas já acontecem?

Alguns alunos expuseram que professores já colocaram abertamente que os alunos possuem apenas duas opções: realizar as atividades online ou simplesmente desistir da disciplina, gerando ainda mais preocupações.
E por fim, apontam que no cenário atual nossas preocupações não deveriam ser com a manutenção do semestre, mas com modos de apoiar e auxiliar a sociedade contra a pandemia que se alarma cada dia mais.

𝐏𝐨𝐬𝐢𝐜𝐢𝐨𝐧𝐚𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨 𝐝𝐨 𝐂𝐞𝐧𝐭𝐫𝐨 𝐀𝐜𝐚𝐝ê𝐦𝐢𝐜𝐨 𝐝𝐨 𝐈𝐧𝐬𝐭𝐢𝐭𝐮𝐭𝐨 𝐝𝐞 𝐀𝐫𝐭𝐞𝐬

Como entidade representativa dos estudantes do Instituto de Artes, o CAIA se coloca no dever de dar voz às minorias. Sendo assim, somos contrários a qualquer medida excludente e que firmam ainda mais os fatores de desigualdade social, racial e econômica.

Para que o EAD seja viável, é necessário que todos os alunos tenham condições materiais e psicológicas para o estudo. Infelizmente, essa não é a realidade. Não é correto que alunos sejam privados de ensino ou prejudicados academicamente por não possuírem ferramentas, um espaço adequado para estudo, acesso à internet ou bem estar emocional. A situação mundial é caótica, e assim como o sistema de ensino não estava preparado para uma pandemia, os alunos também não estão. É preciso uma solução democrática e que leve em consideração a situação de estudantes minoritários, bolsistas e todos aqueles que contam com qualquer tipo de auxílio da universidade para sua graduação, auxílio esse que deve ser mantido durante esse período.

Portanto, também nos colocamos contrários ao Artigo 11, § 2°, publicado na Resolução GR nº. 35/2020, de 24/03/2020, que condiciona o recebimento de bolsas ao vínculo ativo nas disciplinas do semestre. Sabemos que são os alunos com bolsa social aqueles que terão maior dificuldade em manterem as disciplinas de forma remota.

Link na página do CAIA

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